Livre-arbítrio




Quando Benjamim tomou consciência de que tinha a possibilidade de tomar decisões seguindo somente seu próprio discernimento e que a confiança excessiva em si mesmo era a raiz de todos os males que o afligiam, deu o primeiro passo para a própria liberdade. Este sim, ele acreditava ser um pilar indispensável para que pudesse livrar-se do absurdo desespero em que havia se tornado sua existência.
Às condições sob as quais vivera até então, não lhe permitiram ser um homem livre, pois, suas escolhas não eram verdadeiramente suas. As pessoas, incluindo a si mesmo, são treinadas, educadas ou mesmo forçadas a aceitarem um determinado conceito de liberdade e se contentavam relativamente bem diante da servidão, em vez de quererem ser verdadeiramente livres; permaneciam com aquilo que sempre conheceram, temendo que qualquer modificação pudesse apenas piorar as suas condições de vida.
Benjamim via na sociedade o espetáculo em que todo tipo de deboche é apresentado como se fosse “moderno” e “livre”. O indivíduo completamente depravado e viciado considera-se livre, puramente porque a lei não proíbe o seu estilo de vida, pois, esta mesma lei lhe dá a liberdade de deixar-se escravizar.  E isso nada tem a ver com a liberdade autêntica. A presunção de conhecer o Bem e o Mal tornou o homem cativo da mortalidade. A liberdade genuína está diretamente ligada à verdadeira imortalidade. Acreditava que essa situação pode ser revertida.
 Ele sabia que um importante elemento da liberdade é a capacidade de ter uma genuína escolha livre. Entretanto essa escolha não deve ser somente entre poderes ou forças externas, mas deve envolver o íntimo do próprio indivíduo. Por outro lado, talvez lhe fosse dada a oportunidade de escolher o Bem, por exemplo, mas, se ele mesmo estiver escravizado pelo mal, será forçado, por compulsão íntima a continuar escolhendo o mal. Teria feito uma aparente livre escolha, mas já havia se decidido, mediante fatores subjetivos.
Sua presunção é um fator importante em tudo isto, visto que leva o homem a perder sua capacidade de vontade livre. Assim, o homem escolheria livremente o mal, mas não o bem, pelo que não o escolheria mesmo.
A liberdade de escolha do homem confere-lhe uma posição especial no universo, acima de todas as demais criaturas. Benjamim acreditava que a fonte da liberdade na vida estava no poder libertador do elemento místico – a relação do homem com Deus - para solucionar, de uma vez por todas, a questão da potencialidade humana.
A liberdade e o que se segue (a responsabilidade) é uma das principais características da existência humana. A liberdade não somente existe, mas também é inevitável e, infelizmente, com frequência, mostra-se desastrosa. Nem sempre a liberdade leva à bondade e ao benefício. O homem espiritual encara a missão de Cristo, ou a bondade de Deus, como garantidoras de um bom resultado, porém, os homens presos a doutrinas religiosas vê um mundo pessimista misturado em meio a uma liberdade indefinida e sem sentido – e cheio de culpa. É ilusão pensar que a essência do controle de toda a vida social e pessoal do homem é a submissão de todos, salvo um punhado, a uma autoridade humana sobre a qual não pode existir restrição alguma. 
Quem possui um caráter fraco sempre vive escravizado por sua presunção, por mais que declare, em altos brados, a sua liberdade, que é falsa. O caráter espiritual, e não o religioso, é que leva os homens a escolherem a bondade e a retidão, bem como à liberdade genuína.
Benjamim não era ingênuo. Ele tinha consciência de que ninguém é inteiramente livre, mesmo sob circunstâncias ideais, visto que precisa viver em uma comunidade, cedendo aos direitos e desejos de outros seres humanos. Antes de tudo, quem é livre é livre na mente e, em seguida, nos atos e nas condições.
Para ele, era patente que o grande adversário da verdadeira liberdade é a presunção de possuir o conhecimento de modo absoluto, o que resulta na sua degradação, porquanto o homem que é escravo de desse sentimento não é livre, sendo antes um cidadão dos poderes ligados ao mal.
A liberdade espiritual é mais importante que a liberdade pessoal e a política.
Embora a presunção tenha embotado a capacidade do homem de fazer escolhas, de tal modo que é verdade que ele escolhe facilmente o mal, ao passo que só dificilmente ele escolhe o bem, também é verdade que o homem pode escolher, realmente, o bem. E só será uma pessoa responsável se o fizer.
O homem é capaz de fazer escolhas entre o bem e o mal, desde que para isso seja capacitado pelo elemento místico; o Espírito de Deus se posta ao lado do homem liberto da presunção de tudo saber, quando vê a mais tênue reação favorável ao bem.
O homem é um ser criativo. Os sistemas religiosos têm dado pouco valor ao ser humano, referindo-se a ele como um verme, totalmente depravado e impotente. Porém, a experiência humana não concorda com essa avaliação. De fato, as evidências demonstram que o homem não somente é capaz de fazer livre escolha, mas também é criativo, que pode transformar tanto a si mesmo quanto ao seu meio ambiente e ao seu destino. Até onde Benjamim era capaz de ver as coisas, essas são qualidades que o ser humano possui, devido ao fato de haver sido criado segundo a imagem de Deus. O poder libertador da relação com Deus na vida do homem soluciona de uma vez a questão da potencialidade humana.
Apesar do egocentrismo do homem, importante aos seus próprios olhos, preocupado somente consigo mesmo, autoindulgente e justo perante seu próprio conceito, também é objeto do amor universal de Deus e da missão todo-poderosa de Jesus. Esses elementos divinos vencem a todas as possíveis barreiras humanas.
Considerar todos os homens por causa da má escolha do primeiro Homem, sem qualquer recurso provido pelo Senhor é perder inteiramente de vista o significado da missão de Cristo. Essa missão tem um alcance universal, na terra e em qualquer outro lugar. Mas, um sistema religioso fecha qualquer dessas portas. Não obstante, sabemos que apesar dessa capacidade, oferecida por Deus, mediante a missão de Cristo, muitos acabam mesmo preferindo o mal. Mas, há aqueles que nunca se deixarão conquistar.
O sistema religioso legalista, baseado em doutrinas humanas, aponta para a santidade, mas não tem a capacidade de produzi-la.
O ser humano tem necessidade de ter liberdade suficiente para libertar-se de seu egoísmo e, só então, poder amar e servir ao próximo.

Continua...

EP. Gheramer





Comentários

Postagens mais visitadas