DETALHES
À noite ou mesmo o dia são
longos demais neste lugar, mas ao começar a escurecer, é um espetáculo. O sol
que ao se pôr, parece se afogar no meio do azul do mar. Parece estar
naufragando, incendiando tudo ao seu redor. Criando um lindo arrebol.
As ruas de paralelepípedos
conseguem dar um toque de amor. Iluminadas pelas fracas lâmpadas no alto dos
postes, ajudadas pela magia da lua. Que dão um encanto magistral a tudo que
seus raios podem tocar. Os bares cheios de pessoas com risos e risadas,
falatórios e conversas ao pé do ouvido, troca de gentilezas e muito papo
furado, faz com que este lugar ganhe uma nova forma de vida.
O Tim-Tim das taças de
champanhe, comemorando algo especial, ou ainda, quem sabe... Vindas sei lá de
onde, as pessoas chegam cada vez mais, em todos os bares da redondeza. De onde
estou vejo o mar tranqüilo, imagino as ondas como se fosse o braço talentoso de
um determinado regente de uma orquestra sinfônica qualquer.
O tilintar do copo em outro copo, do copo no
prato, do prato na mesa, do copo na ponta da mesa, da ponta da mesa a escorregar
para o chão. A se despedaçar. Causando espanto e gargalhadas, vergonha e
timidez. A música que toca, toca com sensibilidade toca os corpos, fazendo
poesia, revelando histórias de amor. O samba que é tocado na mesa do bar
vizinho, não é o mesmo que é tocado nos outros... Em um pode-se ouvir
sertanejo, já em outro se ouve forró e assim vai de bar em bar, nas calçadas
próximas da encosta do mar.
Pode se ver com clareza, na
janela ao lado, o baile de pés, pernas e corpos nus. Não consigo encontrar concordância
no que vejo e realmente almejo encontrar a resposta... Mas na verdade penso em
você quase que o tempo inteiro, como eu gostaria de compartilhar contigo toda
essa beleza que irradia a alma sedenta de amor, como essa minha alma que
deveras pertence a alguém muito especial... Você. Esqueço um pouco a dança
exótica de meus vizinhos para me perder na folia dos turistas e nos clicks e
fleches das máquinas, cada uma mais moderna que a outra e sempre as mesmas
poses, mãos na cintura e sorrisos forçados, encostados no poste e de braços
cruzados.
Sigo noite adentro embalado em poesia,
imaginando um sono rápido e estressante na cidade onde deveras aprendi a amar,
onde tudo funciona vinte e quatro horas e o perigo e os assaltos são
constantes. Ficamos assim, sem tempo para vislumbrarmos os antigos casarões da
antiga rua Aurora, as vitrines e a beleza que encantam os turistas perdidos nos
detalhes do parque Ibirapuera e no museu do Ipiranga.
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